domingo, 2 de janeiro de 2011

Sobre ser um.

Eu tive a oportunidade (e quem sabe o desprazer) de conhecer um milhão de faces, algumas boas, e outras ruins.
Conheci primeiro, um menino que brincava, em todas as festas, de pique esconde. Eu me lembro direitinho, apesar de ter sido há anos. O pique era no portão marrom de parentes em comum, e ele sempre ganhava. No meio desses tais parentes, sempre teve muita atenção, e eu nunca entendi o por quê.  Sem eu perceber, o pique-esconde perdeu a graça, e nós crescemos. Conheci  outro menino,  não sei  bem o motivo, mas sempre achei que ele tivesse vergonha de conversar comigo.  Ele não brincava de correr mais, mas escrevia recadinhos em giz na louza verde do quarto ao lado da lavanderia. Os recadinhos foram abolidos, crescemos mais (e juro, foi imperceptível!).  Conheci outro menino,  esse ia em festas e dançava funk, não tinha mais tanta vergonha.  Acho que eu já tinha crescido o suficiente e ele também, nos achávamos “maduros”.
Viajei e conheci outro menino (o melhor deles). Ele não deixava transparecer suas vontades, mas elas ficavam claras quando estávamos a sós.  Ele parecia me proteger, me cuidou. Eu gostava. Ele me surpreendeu e eu tive que ir embora. Ele desapareceu.
Fiquei meses sem conhecer outro menino, até que numa festa, encontrei um moleque. Não conhecia nenhuma ponta dele, mas queria entendê-lo. Eu fiquei curiosa.  Ele namorava e parecia se entregar por inteiro. Devia ser feliz. Eu duvidava. Desapareceu também.
No feriado da independência conheci outro menino. Não gostei dele. Ele não ligava pra nada, na-da. E não era aquele tipo de menino que ligou o foda-se, mas por dentro queria saber o que pensavam. Era daquele tipo que às vezes chega a ser ignorante. Ele bebia. Não que eu tenha alguma coisa contra a bebida, pelo contrário. Mas a bebedeira em que ele se enfiou não me traz boas lembranças. Eu subestimei aquele garoto. Ele me surpreendeu, mas não foi uma daquelas surpresas boas, que você nem precisa estar preparado pra receber. Foi daquelas ruins, que te derrubam. Me decepcionou.
Nunca achei que fases tão diferentes formariam o menino que eu conheço hoje. Difícil, teimoso, mas aberto. Esse tal menino, confesso, me decepcionou quando me disse que não ouvia Beatles e nem lia livros. Ele gosta de Mcs e de não-estudar. Malandro até a morte (ou até a próxima fase).
Esse tal de Evandro e as suas milhões de faces, quem aguenta? 

Produzido por Camila Rocha.

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